domingo, 4 de dezembro de 2011

31 de dezembro

31 de dezembro




Os ponteiros indicam a proximidade do Ano Novo. São muitos os preparativos. Queremos que essa folha em branco seja preenchida com tudo aquilo que não tivemos a oportunidade (?) de mudar. Mudar. Palavra mágica. Esse é o momento de nos livrarmos de nossas próprias cadeias, de nossos medos, livrar-nos simbolicamente do que fomos.

É dada a largada. Meia moite, o ponto-princípio. Saudade do que se foi? Pra quê se ao amanhecer seremos os mesmos, com a tênue diferença. Seremos os mesmos, cheios de esperança no que não conhecemos. Afinal o desconhecido nos atrai. Podemos ser como quisermos dentro desse contexto sem que ninguém nos julgue ou condene.

O corre corre é geral, os minutos fogem relógio abaixo. Retoques na mesa já posta com lindos castiçais com cristais na borda e muitas velas. Compridas, redondas, coloridas e perfumadas. Taças brancas e vermelhas combinam com estampas florais dos guardanapos de linho. Champagne no gelo.

Onde estão as caixas dos fogos de artifício? Ah! Encontrei. Na última queima de fogos, uma das caixas ficou esquecida dentro da já tão desprezada gaveta das memórias do ano passado.

Mas hoje tudo será diferente, nada será esquecido.

Num rastro de emoção, onde lágrimas são risos que escorrem de outra fonte. Num silencio estrondoso repicando no céu de nossos sentimentos. Ele chegou! É novo e lindo. Rostos suados se beijam. O mar recebe uma profusão de rituais misturados a tantas crenças. Flores enfeitam o caminho por onde corre de muitos a fé, a vida e a esperança.

Lá fora já posso ouvir o estalar dos fogos. Lembramo-nos de promessas feitas há exatamente 365 dias antes, mas já fez um ano? Nem parece. Como o tempo correu! Nem deu tempo de cumprir a promessa de novos estilos de vida.

Eu ia mesmo parar de fumar, mas estive muito ansiosa por causa do estresse no trabalho, mas esse ano não... Tudo será realizado, como num passe de mágica de tantas fadas e duendes. À volta ao estudo. O fim da era possessiva de uma esposa ex-ciumenta. Recomeçar claro! Dietas, casar, descasar, fugir dos compromissos, trabalharem mais com mais afinco, esquecer o passado, ou voltar a vivê-lo. Cuidar da saúde, da doença, declarar-se, esconder um grande amor. Viver dele, ou mata-lo ainda na concepção. Poupar dinheiro, viagens, plásticas, amadurecimento, viver folgado e tantas outras promessas embaladas ao som de adeus ano velho, fogos, champagne e beijo na boca.

E já nos primeiros minutos do “Ano novo tudo novo”, um despertar dos sonhos de uma noite de verão, nos sacode pra dentro de nós, puxando o fio da realidade que jazia de castigo no fundo de nossa alma. E sabemos muito bem.

Não queremos mudanças. Muitos detalhes de nossas vidas precisam continuar no mesmo ritmo.

O que exatamente nós queríamos, é que todo dia fosse um reveillon. Dia de risos, fogos e promessas com a certeza de serem cumpridas tão certamente que já somos felizes mesmo sem cumpri-las. Queremos administrar nossas ilusões, sonhar e ressonhar antigos sonhos. Usurpar da vida e sorver todo o doce de viver de anseios, fantasias, quimera.

Repetir em cada momento de dor, o sonho de viver 365 dias 31 de dezembro.

Tery
06/01/2011

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PENSAMENTO DO DIA

TODO SOPRO QUE APAGA ESSA CHAMA, REACENDE O QUE FOR PRA FICAR. (TEATRO MÁGICO)